Em 1995, Márcia Vaitsman, Mariana Rillo e eu nos metemos num projeto de fanzine eletrônico. "Biografias não Autorizadas" partia da premissa de colocar lado a lado personagens inventados e reais, sem deixar claro quem era de verdade e quem não era. A gente misturou texto, foto, desenho e música, tudo isso montado no Director (se não sabe o que é, pesquise) e disponibilizado em quatro disquetes de 3,5", que vinham embrulhados numa embalagem que era mezzo pacote de figurinha, mezzo pacote de pão.
Dos personagens, a que fez mais sucesso foi a Wania (que também deu as caras neste projeto da Mucha Tinta), a ponto de ter gente querendo saber como fazia pra conhecer ela, coisas assim. Tudo soa um tanto ingênuo visto de uma distância de mais de um quarto de século, mas na época ficamos todos bem felizes com o resultado.
No primeiro semestre de 2022, a turma da optativa de quadrinhos da Embap trabalhou em seus projetos de HQ para uma coletânea produzida na disciplina. Não lembro de quem partiu a provocação/convite, mas eu topei produzir uma HQ para publicar com eles. Mas não quis pegar algo pronto e apenas colocar junto – até porque eu nem tenho HQs inéditas sobrando, que me lembre. Achei que seria de bom-tom preparar algo especialmente para o projeto e foi o que fiz.
E se não tenho HQs prontas sobrando, o mesmo não pode ser dito sobre ideias. Aproveitei parte de uma HQ que nunca foi para frente, justamente o seu final, e transformei nessa história curta. A conexão com o "Biografias" veio enquanto ia fazendo e acabei gostando de reencontrar esses antigos personagens.
Wania, nossa musa etérea, dá um cano em Kid Barnabé (ou Kid B. como eu às vezes chamo) que nada mais é que uma versão de mim mesmo, há 28 anos. Cientificamente, dizem que a viagem no tempo é uma possibilidade apenas em teoria – e, mesmo assim, apenas para o futuro. Na nossa imaginação, porém, é possível realizar essa e outras viagens e é como um viajante que eu me sinti desenhando essa HQ.
Sem saudosismo, mas com uma sensação de alegria meio indefinível. Um pouco como nossa heroína Wania.